Certa vez ouvi o mestre Divino falar que bateria tem padrão e batucada tem estilo, achei de uma inteligência enorme essa frase e me perguntei se essa teoria só serviria para as escolas de samba, vi que não, pois a cada disco de samba que se lança por ai, principalmente ou exclusivamente se falando dos trabalhos fonográficos de artistas paulistanos, vemos tudo igual.
Não consigo gostar desse estilo "atual" de se gravar sambas, é sempre a mesma coisa, o surdo chama, entra o pandeiro e o repique de mão, na segunda o surdo para e aparece o repique de anel com um tamborim tímido e um agogô quase mudo, hora ou outra tem uma cuíca e um reco-reco, sempre com as mesmas frases e levadas.
O mais engraçado é que virou padrão, exatamente como o Divino falou, e onde fica a batucada? Lembra quando o surdo tocava em segunda, o repique de anel vinha cortando tudo feito um surdo de terceira, os naipes de tamborim faziam a festa? Salve Luna, Marçal e Eliseu! Lembra quando o pandeiro vinha brincando sem hora pra entrar ou sair? Lembra? Nunca se adivinhava o que iria acontecer, ô tempo bom! Hoje em dia já se sabe tudo o que vai rolar nos CDs, quem está tocando, quem está produzindo, dirigindo e arranjando, afinal, são sempre os mesmos nomes, os mesmos instrumentos e as mesmas caras e bocas, que fazem mal e acham que estão dando aula, banhos de criatividade, mas temos que respeitar... São berços, comunidades e a nova guarda do samba, a "Voz do Morro"! Nada disso, estão todos engrandecendo suas respectivas "quebradas" e deixando o bom samba e a boa batucada de lado.
Não sou um exímio ritmista e sim um batuqueiro, um tocador a moda antiga, que prefere tudo as avessas, tudo mal mixado, não masterizado e com emoção, a um samba simpático ao "putz putz" que por ai rola, sem vida sem emoção e por fim... IGUAL.
Igual por igual, prefiro o Zeca!
Raphael Moreira